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Dermatite: questões psicanalíticas

Atualizado: 30 de out. de 2023


"A Modern Olympia" de Paul Cezanne

Meu nome é Rafael Santos Barboza, sou psicólogo (CRP 06/142198) e psicanalista, atuando com atendimentos de forma remota/online. Nesse texto, apresento a ideia de que a pele é um órgão psicossomático, ou seja, é influenciado por fatores fisiológicos e psicológicos.

Texto: A relação entre pele e aspectos emocionais tornou-se bem conhecida. No contexto médico, poucos são os profissionais que ignoram o fato de que períodos de instabilidade emocional podem provocar crises agudas em determinadas doenças dermatológicas. Na mesma medida, aspectos emocionais crônicos também pode funcionar como mantenedores de problemas de pele. A relação entre saúde física e mental, de tal forma, é contínua, devendo o sujeito ser visto de forma integrada.


Em um sentido psicanalítico, a pele pode ser entendida como um envelope para o psiquismo. Essa ideia foi desenvolvida por um autor francês chamado Didier Anzieur, em seu livro chamado "O Eu-Pele". Uma outra função psíquica importante da pele é ter a função de comunicação e troca com o outro. Nesse ponto, podemos lembrar como a pele é um meio de comunicação quando recordamos do toque do bebê com a sua mãe ou mesmo de um abraço.


Nesse ponto, é preciso assinalar uma questão importante: a proposta aqui não é de sugerir que as dermatites são provocadas somente por problemas emocionais. Isso seria um outro modo reducionista de olhar para a questão, deixando de lado diversos outros componentes, como a genética, epigenética, alimentação, hábitos, entre outros.


No contexto do desenvolvimento, pele e emoções possuem um caminho de constante reciprocidade. Didier Anzieur lembra que "A pele não pode recusar um sinal vibrotátil ou eletrotátil: ela não pode fechar os olhos ou a boca nem tapar os ouvidos ou o nariz". Em certa medida, como já apontava Freud, o ego é, antes de tudo, corporal, o que significa dizer que as funções psíquicas estão diretamente relacionadas às sensibilidades físicas e corpóreas, com seu erotismo, necessidade, tensões e alívios ao longo da vida.


Em relação ao tema do texto, importante pontuar que "dermatite" indica uma inflamação na pele. No escopo da Medicina, costuma-se utilizar um "sobrenome" para especificar alguns tipos de dermatite, como a dermatite atópica e a dermatite seborreica. Cada dermatite possui causalidades e manifestações diversas, desse modo, não podemos falar da "dermatite" como uma coisa só, pois há todo um universo de sintomas e etiologias. Para um psicanalista que trabalha com questões relacionadas ao campo da Psicossomática, esse tipo de diferenciação é importante, até para que ele possa dialogar com os profissionais médicos quando isso for necessário, a fim de oferecer um tratamento mais integral ao paciente.


No trabalho com pacientes que sofrem com dermatites que se agravam em períodos emocionais turbulentos, a escuta psicanalítica pode auxiliar o sujeito a dar contorno em relação às suas emoções. Necessário lembrar que em situações de crise, é comum que o sujeito regrida em seu funcionamento psicodinâmico, lançando mão, muitas vezes, de atuações ou de mecanismos mais primitivos. Além disso, há situações que extrapolam a capacidade do psiquismo de tolerar ou dar continência para certa tensão, o que pode fazer com que a fisiologia do corpo seja afetada.


O corpo é veículo de comunicação: expressa sentimentos, emoções, desejos, vergonhas. Em relação aos casos de dermatites, principalmente aquelas agravadas por questões emocionais, a escuta psicanalítica pode propiciar um espaço seguro para transformação de angústias muitas vezes vividas como "agonias sem nome", conforme expressão do psicanalista Wilfred Bion. Trata-se de angústias que o psiquismo sequer consegue simbolizar e nomear, muitas vezes restando ao corpo absorver a tensão, o que resulta, muitas vezes, em um custo fisiológico, como alterações na imunidade.

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